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Coronavírus muda a forma como a Páscoa será celebrada em Santa Maria

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data-filename="retriever" style="width: 100%;"> data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas
Alam e Ticyane usarão a internet para celebrar a Páscoa com a família que mora em Livramento

Escolher um cardápio diferenciado, convidar amigos e parentes e planejar um dos domingos mais especiais do ano, aquele em que se celebra a Páscoa, é tradição no mundo todo. E, no Brasil, onde mais de 80% da população segue o cristianismo, não é diferente. Mesa arrumada, casa enfeitada e a expectativa de reencontros com a casa cheia fazem parte dos planos para a data especial.

Só que, neste ano, a quantidade de pratos à mesa será menor nos lares do mundo todo. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), por conta da pandemia do novo coronavírus, é para que as pessoas fiquem em casa. E isso, é claro, implica em cancelar viagens, não sair para passear ou visitar alguém, e tampouco estar em aglomerações, inclusive as religiosas.


Neste contexto, em que as igrejas não farão seus ritos, a Páscoa requer novos planos. Mas quem disse que, por ficar em casa para cuidar da saúde, não se pode ter uma celebração especial? Aliás, quando todos devem estar unidos em prol da saúde comum, com criatividade, empatia e fé, a Páscoa de 2020 deixará histórias a serem contadas a muitas gerações.

EM CASA
Essa Páscoa será diferente para o editor audiovisual Alam Carrion e a enfermeira Ticyane Carrion. O casal de Santana do Livramento, que mora em Santa Maria, costuma comemorar a data participando do Tríduo Pascal, programação que inclui missas na quinta-feira e no sábado, e um rito litúrgico na Sexta-Feira Santa.

- O catolicismo nunca deixou de praticar essa tradição. Desde que nos convertemos, eu em 2010, e Ticy, em 2014, também não - explica Alam.

Para ela, Páscoa é alegria.

- No rito, lembramos da dor de Jesus e meditamos com esperança. Na Páscoa, nos alegramos ao celebrar a ressurreição de Cristo - explica Ticyane.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas
Casados há seis meses, Ticyane e Alam não poderão passar a Páscoa com os familiares em Santana do Livramento.

- Tenho ótimas lembranças dos almoços de Páscoa, ao lado dos meus bisavós, católicos fervorosos - recorda ele.

O casal está em jejum espiritual, prática que consiste em se abster de alimentos por determinados períodos ao dia, desde o início da quaresma. Nesses dias, eles assistem às missas pela televisão, acompanham a Via Sacra e liturgias pelo YouTube.

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Já para a aposentada Iroiza Peres Lucena, 71 anos, a principal diferença dessa Páscoa é a impossibilidade de acompanhar as celebrações na igreja. E, para cuidar da saúde dando atenção à prevenção contra a pandemia, vai fazer um almoço em casa: junto à filha, ao genro e às netas:

- Nesse ano, vai ser diferente. No entanto, a igreja somos nós. O mais importante, agora, é pedir saúde e paz para enfrentar esse momento. Há um ano, realizei o sonho de conhecer a Terra Santa, Israel, e pude ter a sensação do que foi a verdadeira Páscoa.

NAS IGREJAS
Com as igrejas fechadas em função da quarentena, muitos cristãos irão celebrar a data em casa e, dessa vez, a internet comporá as cerimônias. Fiéis de diferentes denominações religiosas, ao invés de se reunirem nos templos, acompanharão as ministrações via celular, notebook ou computadores. Afinal, não se reunir fisicamente não significa não ter contato, segundo o cientista social e pastor Levi Oliveira.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas

- As igrejas estão preparadas para se reunirem além das quatro paredes. Na Igreja Batista Nacional (IBN), temos feito "lives de oração" todas as manhãs e a frequência tem sido cada vez maior. Nosso culto de Páscoa não será diferente. Quando a igreja realmente é um organismo vivo, a estrutura material fica secundária - diz o pastor.

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Para Levi, mais do que nunca, a principal responsabilidade das lideranças cristãs é preservar vidas. Por isso, na opinião dele, enquanto os especialistas recomendarem, as igrejas devem permanecer fechadas:

- A Páscoa nos remete ao encontro com o "Cristo da ressurreição". Hoje, mais do que nunca, os vínculos devem permanecer. Precisamos aguardar o livramento dentro das "tendas", como no tempo bíblico. A Páscoa começou antes do nascimento de Jesus, quando os israelitas receberam a instrução de Deus para a celebrarem dentro de casa, há 1.250 anos antes de Cristo.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert
Para o cientista social e pastor Levi Oliveira, comemorar a data em casa significa preservar a vida

Sem viagens, encontros e abraços, a mensagem, agora, é ressignificar
Se a mensagem da Páscoa inclui perdão e o renascimento, os quais são selados com encontros e abraços, na hora de cuidar da vida, faz-se necessário ressignifcar a ocasião.

Rogério Anese, presidente da União Municipal Espírita de Santa Maria explica que, para a Doutrina Espírita, Jesus é o modelo e guia para o qual a humanidade deve se direcionar através da prática do Evangelho, inclusive no momento em que o cuidado mútuo e essencial:

- Para nós, espíritas, Páscoa, no, sentido mais íntimo, é o renascimento de cada um. Isso se faz com a vivência do Evangelho e a morte das imperfeições que nos afastam de Jesus, como egoísmo, orgulho e vaidade. No momento em que a humanidade está mais reclusa, temos uma oportunidade a mais de reflexão.

Para Rogério, a mensagem da Páscoa destina-se à vida espiritual e não à material, que é transitória e acaba com a morte do corpo.

- Pensar a Páscoa além das viagens, festas familiares e simbolismos é entender a mensagem de Jesus quando dizia "Vinde a mim, vós todos que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei". Essa Páscoa é a oportunidade que cada um de nós tem de refletir. Afinal, o que realmente importa? O que Jesus espera de nós como cristãos? O que renascerá em nós após essa reclusão? Que possamos pensar no consolo, na esperança e na fé que Jesus nos deixou quando esteve na terra. Páscoa é todos dos dias - diz Rogério.

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Um novo tempo
Segundo o padre Luciano Eduardo da Silva, da Paróquia Santa Catarina, Páscoa significa a vitória da vida sobre a morte, do bem sobre o mal: 

- Neste tempo em que vivemos sob a ameaça de sofrimento, doença e morte, a Páscoa adquire um sentido particularmente especial. A vitória de Cristo sobre a morte renova e fortalece nossa esperança em meio às provações. Temos a certeza de que a vida venceu a morte e que, portanto, a esperança da humanidade por tempos melhores não é vã.

ESPERANÇA
Para o pastor Joel Engel, do Ministério Engel, a grande mensagem da Páscoa deste ano é a esperança e a solidariedade. Ele acredita que, a partir da pandemia, as pessoas passarão a ressignificar o que realmente dá sentido à vida delas:

- Páscoa em casa é uma mensagem ao mundo. Tudo começa no lar. Filhos, cônjuges, pais. São esses que estão sempre ao nosso lado, além de Jesus, o nosso melhor amigo. Será que o mundo estava atento a quem tem fome como está agora? Será que o nosso olhar já não mudou com tudo isso?

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A fé na Terra Santa, onde tudo começou
Além do contexto religioso, a Páscoa carrega significado histórico e social. O sacrifício e a ressurreição de Jesus são emblemáticos, e, ao longo dos 1987 anos em que aconteceu, pessoas do mundo todo visitam Jerusalém, em Israel, para visitar os lugares pelos quais Cristo passou na crucificação. Esse percurso é chamado de Via-Sacra.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Rômulo Dessotti\Arquivo pessoal

Pastor e teólogo, Domingos Floreni Lamberty viajou a Israel por duas vezes, em 2010 e 2018, e passou pela Via Sacra na primeira visita ao país. Ele fez a excursão com a mulher, Aira Lamberty.

- Ao chegarmos à Via-Sacra, imaginávamos um monte, mas é uma lomba. O mais marcante é o túmulo vazio. Em 2010, neste local, havia um jardim junto ao Monte Caveira, também chamado Gólgota. À época, dava para ver o desenho de uma caveira na pedra. Em 2018, a erosão desfez parte do calcário que dava este formato - conta Lamberty.

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FUNDAMENTOS
O aposentado Ari Conceição conheceu Israel em 2016. Em 2018, ele voltou à cidade com a mulher, Ieda, e outros familiares.

- Fomos com o pastor e teólogo Levi Schmitt de Oliveira. Como ele é conhecedor da geografia e da história daquele país, ensinou-nos a relacionar os lugares e fatos às razões e fundamentos da fé cristã. Conhecer Israel era um desejo de cinco anos, quando comecei a estudar a Bíblia com afinco. A primeira viagem, com meu filho, Rômulo, me marcou tanto que resolvi voltar - conta ele.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Rômulo Dessotti\Arquivo pessoal

VIA DOLOROSA
O santa-mariense comenta, ainda, que Israel oferece o que há de mais moderno em tecnologia e desenvolvimento. Segundo ele, o local está integrado à preservação histórica e dispõe de um trabalho arqueológico intenso, que, continuamente, não só esclarece, mas comprova fatos da narrativa bíblica. O percurso na Via Dolorosa foi o mais impactante do passeio, na opinião de Ari:

- Na Via Dolorosa, conhecemos a Porta dos Leões, na Fortaleza Antonia, onde Jesus foi condenado por Pôncio Pilatos. Visitamos o lugar em que Jesus foi açoitado e teria recebido a cruz para o Calvário. O trajeto ganha destaque mais pela tradição cristã do que por evidências históricas, já que a cidade sofreu inúmeras transformações ao longo dos séculos.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Arquivo pessoal
Ari e Ieda Conceição no Monte das Oliveiras, lugar onde Jesus fez a última oração. Ao fundo, Jerusalém, uma das cidades mais antigas do mundo, considerada sagrada pelas religiões judaica, cristã e islâmica

SONHO REALIZADO
Para o professor universitário aposentado Paulo Mucenecki e a mulher, a fisioterapeuta Cláudia Pacheco Mucenecki, conhecer Israel foi a realização de um sonho. O desejo deles era visualizar os locais citados nas Escrituras Sagradas.

Segundo Cláudia, a Via Sacra é um caminho estreito, tortuoso e, por vezes, confuso. Formada por muitas ladeiras e escadas, está sempre lotada de turistas e vendedores do comércio árabe. Ela levou cerca de duas horas para fazer o caminho:

- Meu pai, Joel Rodrigues Pacheco, 76 anos, foi conosco. É interessante saber que Jesus, naquele caminho tortuoso, levou uma cruz nas costas já machucadas pela tortura e, ainda, sofrendo com uma multidão que o oprimia emocionalmente.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Arquivo pessoal
Paulo e Cláudia Pacheco Mucenecki se emocionaram ao conhecer o túmulo de Cristo em 2018

Ela relembra o trajeto entre o Monte das Oliveiras e o Jardim do Getsêmani, que conta com uma descida íngreme, seguida de uma subida intensa. Além disso, o calor também castigava:

- Ao percorrermos aquele caminho, pensei no que Jesus sofreu. Naquele momento, estávamos com protetor solar, chapéu e muita água. Nossos pés estavam protegidos por um calçado fechado, ou seja, estávamos em situação confortável comparada a de Jesus. Imaginei a dor de dele ao fazer aquele trajeto, sofrendo a angústia da morte, com sandálias gastas pelo tempo, pisando em solo pedregoso. Fiquei emocionada ao chegar no Jardim do Getsêmani. Com essa experiência, com certeza, ressignificamos a nossa fé.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Rômulo Dessotti\Arquivo pessoal
Todos os anos, santa-marienses realizam o sonho de conhecer a Via-Sacra, conhecida como Via Dolorosa

CALVÁRIO
A crucificação ocorria em uma elevação, ou seja, um monte ou calvário, como esse tipo de terreno é chamado em Jerusalém. O sepultamento era em túmulos de pedras, nos quais se podia entrar.

Paulo se emocionou ao conhecer o túmulo de Cristo:

- Entendi que as dores sofridas por ele durante a Via Dolorosa e a morte na cruz do Calvário fazem parte do plano divino de redenção. O clímax de tudo é a ressurreição de Cristo ao terceiro dia. Saber que o túmulo está vazio ressignificou a nossa fé.


Simbologias, ritos e consagrações
A Páscoa começou muito antes da semana em que Jesus foi crucificado e ressuscitou. Cerca de 15 a 17 séculos antes de Cristo, conforme o pastor e cientista social Levi Oliveira, a primeira Páscoa foi celebrada pelos hebreus que viviam sob escravidão no Egito:

- Os hebreus teriam que celebrar a Páscoa em casa, enquanto aguardavam o livramento de uma praga que mataria muitos egípcios. Aquela ocasião foi histórica e deveria ser comemorada todos os anos e contada a gerações futuras. Então, em 33 d. C., Cristo reuniu-se com os discípulos para essa celebração. A partir da morte e ressurreição, Cristo se tornou o principal símbolo da Páscoa.

Segundo Levi, as taças, o pão sem fermento, o cordeiro assado, as ervas amargas e a salmoura fazem parte da mesa da celebração, como símbolos da data.

Conforme o padre Luciano Eduardo da Silva, para o catolicismo, os principais símbolos da Páscoa são o círio pascal, que representa a luz, e a água, que representa o batismo e o renascimento do ser humano.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pedro Piegas

  • Vigília Pascal - É a principal cerimônia de Páscoa. No catolicismo, segundo padre Luciano, essa solenidade deve ocorrer dentro da igreja, ou seja, não pode ser realizada em casa. Mas, como opção para esta Páscoa, além de acompanhar a Vigília Pascal pela internet, pode-se fazer uma refeição de conciliação e partilha junto da família, no almoço de domingo, orienta o padre.
  • Círio - O Círio Pascal é uma grande vela que é acesa, em todas as igrejas, na noite do sábado que antecede a Páscoa. Nessa ocasião, os fiéis recebem uma bênção solene. A celebração é chamada Vigília Pascal. O círio representa a luz de Cristo, que ilumina o universo quando ressuscita.
  • Água - A água representa o batismo. Esse ato simboliza o início de uma nova vida a partir do encontro com Cristo. João Batista ganhou esse nome por batizar as pessoas no Rio Jordão, já anunciando a vinda do Salvador (Jesus).

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Pixabay

  • Salmoura - Usadas para molhar as ervas, representam as lágrimas dos hebreus durante mais de 400 anos de escravidão no Egito.
  • Cruz - A cruz é o maior símbolo da morte e ressurreição de Cristo. A crucificação era a pior condenação no Império Romano, destinada a criminosos dignos de tortura.
  • Peixe - A tradição do peixe, na quaresma, surgiu como opção para substituir a carne, que não é comida, neste período. No catolicismo, a Sexta-feira Santa é para jejuar e se abster de qualquer tipo de carne. O peixe pode ser integrado ao cardápio no sábado ou no domingo.
  • Ervas amargas - Relembram as dificuldades que os hebreus passaram durante a escravidão no Egito.
  • Cordeiro - O cordeiro era o animal que deveria ser oferecido em sacrifício pela culpa, na tradição hebraica. Jesus, ao ser morto na cruz, foi como um cordeiro que, ao ir para o matadouro, assumiu os pecados da humanidade.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert

  • Pães asmos - São pães sem fermento. Na tradição bíblica, o fermento representa o pecado. Na Páscoa, dia de libertação, é preciso remover a maldade do coração humano.
  • Quatro taças de vinho - Cada uma tem um significado. No entanto, a Páscoa nos remete à simbologia da terceira: o cálice da salvação. É com essa taça que Jesus explica aos discípulos a forma com a qual haveria de morrer: "esse é o cálice da nova aliança, o meu sangue que será derramado por vós".

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert

 *Colaborou: Gabriele Bordin

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